Inteligência Artificial vs burrice natural
Caminhos práticos para tirar o máximo da Inteligência Artifical sem que ela tire nada de você.
Usar o ChatGPT para escrever tudo pra você pode trazer benefícios a curto prazo, mas no longo prazo vai te custar muito caro. Isso porque a escrita é como você destila seus pensamentos, estabelece suas crenças e refina sua visão de mundo.
Em “ninguém me ensinou como ter ideias”, falei sobre a escrita ser uma ferramenta de foco e criatividade, e não só uma forma de se comunicar.
Mas o buraco é mais embaixo. A escrita do ChatGPT é desinteressante e (ainda) não consegue estruturar narrativas inesperadas. Pelo menos não sem os inputs certos. Escrever com personalidade ainda pede toque humano.
Por isso essa ferramenta deve ser usada no momento certo do processo criativo. O toque especial do seu tom de voz é insubstituível. E se a escrita é como um músculo, meu único pedido é: não pare de treiná-lo.
Mas isso não é um texto dizendo que o caminho para se destacar é ser analógico e nadar contra a corrente da IA generativa.
Entender essa tecnologia pode ser a coisa mais importante que você vai fazer pela sua carreira, por causa do timing.
Você, certamente, não vai ser substituído por uma inteligência artificial. Mas se for muito resistente, pode acabar sendo substituído por um profissional que usa a inteligência artificial melhor do que você.
Digo “melhor do que você” porque a pressa em integrar IA na estrutura de nossas vidas deixa muito claro que o profissional que sequer se interessa por essa tecnologia corre risco a curto prazo.
Acontece que se sua forma de usar IA é só fazer pedidos ao Chat GPT, o risco é ainda maior: o de atrofiar seu cérebro. Você está transformando a IA no processo todo, e não em uma parte natural de um processo ainda maior. Esse é o caminho mais curto para transformar a inteligência artificial na sua burrice natural.
Ok, mas por que agora é a hora de entender a IA e buscar caminhos para integrar ela ao seu trabalho?
A Curva S da tecnologia
Em todas as revoluções tecnológicas das últimas décadas você vai observar o mesmo comportamento — chamado de Curva S.
A tecnologia começa cara e pouco adotada. O público que enxerga seu potencial neste momento é o dos inovadores. Pense nos celulares: o primeiro foi criado em 1973, mas eles só foram popularizados nos anos 90;
Depois, há um período de rápida inovação e expansão de recursos. Isso provoca adoção massiva. Ou seja: quando os celulares ficaram melhores e mais baratos, mais atraentes do que um telefone fixo, todo mundo estava comprando um;
Então, conforme o mercado amadurece, a tecnologia tende a desacelerar porque não há novos clientes para quem vender. E o custo de inovações não tem tanta perspectiva de retorno financeiro. Alcançamos o topo da curva S.
Agora, o espaço está aberto para uma tecnologia completamente nova vir à tona com sua própria curva S. Foi assim que o smartphone tomou o lugar do celular convencional, abrindo espaço para que startups de apps móveis fossem as mais valiosas do mundo.
E quem tomou o lugar do smartphone e apps móveis foi a inteligência artificial. Agora, não é diferencial que uma empresa seja mobile-first ou tenha um app: já é o esperado dela. Não é inovador. A IA generativa vai caminhar por essa trilha nos próximos 2 ou 3 anos.
O Chat GPT transformou a Open AI em uma gigante da tecnologia. Sem aviso prévio, eles fizeram o que a Meta tentou fazer com o Metaverso, que sequer teve força para tornar-se tendência digna de Curva S e morreu na praia do hype.
Para as Big Techs, integrar IA aos seus produtos tem sido a corrida maluca.
Para os profissionais, não tem muito pra onde correr. Usar as ferramentas já não é diferencial, e você precisa usar elas de uma forma diferente da massa.
Inteligência Artificial não é só o Chat GPT
O que todo mundo já tá fazendo é muito além de escrever legendas pra posts com o Chat GPT. E você pode começar avaliando o que você já faz e o que pode passar a fazer dentro do óbvio:
Gerar criativos com variações, criando e testando eles em menos tempo na própria ferramenta da Meta;
Diminuir o tempo e custo da criação de vídeo, áudio e outras formas de conteúdo com VMaker, movavi, Steeve AI, veed.io, Captions e outras ferramentas;
Integrar IA generativa em todo o processo de criativo para agilizar resumos, concepção, edição e recursos finais;
Diminuir o tempo na sua pesquisa sobre um tema usando buscadores que vão te dar acesso a conteúdo mais profundo e novas fontes como o Perplexity.
Aqui estão alguns caminhos não óbvios que tenho testado para incrementar IA no meu fluxo de trabalho.
Eles podem ser um ponto de partida para que você otimize suas próprias entregas:
Criar pompts de pesquisa extremamente específicos para conduzir, diariamente, pesquisas de mercado e análises que tendências, que me levariam mais de 1h;
Criar assistentes de IA especializados em temas específicos no playground da Open AI.
Para estes dois exemplos, vou deixar um passo a passo:
Prompt Engineering no Perplexity para pesquisa de mercado e análise de tendências
Veja a diferença do resultado de pesquisa que eu tenho de acordo com a profundidade do prompt usado:
Se eu pergunto tendências emergentes no marketing de redes sociais, tenho resultados interessantes e posso acessar as fontes para explorar mais detalhes.
Mas não é uma pesquisa necessariamente focada nas minhas necessidades e eu posso acabar perdendo tempo lendo conteúdo genérico e entediante.
Para extrair o máximo da ferramenta e ela se aproxime do trabalho que eu realmente faria caso me dedicasse a conduzir essa pesquisa, precisei criar um prompt que se aproximasse mais dos meus temas de interesse específicos. Além de pedir exatamente em qual formato eu gostaria de receber a minha resposta.
Veja a diferença na qualidade do output:
O resultado foi mais extenso, mas extremamente específico e focado na minha necessidade. Assim, não vou precisar usar meu tempo conduzindo uma pesquisa em cima da busca que a IA fez pra mim.
Algumas boas práticas que facilitam a rotina são:
Conduzir a pesquisa em inglês, simplesmente porque existe mais conteúdo em inglês disponível na internet. Você pode usar um tradutor simples para escrever o prompt e clicar com o botão esquerdo do mouse usando a opção “Traduzir para Português” quando sua resposta ficar pronta, se você usa o Google Chrome ;
Limitar o período em que os materiais foram publicados, para não perder tempo com informação que já pode ser acessada em pesquisas mais simples no Google ou está disponível sem esforço nas redes sociais;
Perguntar especificamente sobre o(s) setor(es) que você deseja receber a informação.
Já que estamos falando tanto sobre salvar seu precioso tempo, aqui está o prompt que eu tenho achado útil. Você pode fazer uma cópia e ajustar os trechos destacados em roxo. Assim, você vai usar o modelo e personalizar para suas próprias necessidades.
Sim, ele é longo. Não, não tem problema. A ferramenta vai entender e, se você ativar o Pro Search (você pode acionar sem custo 3x ao dia, o que é bem mais do que você precisa) vai ter resultados ainda melhores.
Assistentes especialistas no playground da Open AI
O playground da Open AI tem me aberto muitas possibilidades, porque ele é mais personalizável e mais barato do que o GPT-4.
Você pode criar assistentes especialistas em uma tarefa específica sem custo, pagando apenas pela quantidade de vezes que você os acionar.
A assinatura do GPT-4 custa 20 dólares ao mês, e na última semana eu acionei um assistente mais de 17 vezes para um teste que estava sendo conduzido: me custou só 4 dólares, no total.
Para logar no playground, você precisa acessar esse link (uma URL diferente da que é usada para o GPT) e acessar a aba de assistentes no canto esquerdo.
Cada assistente precisa ser especialista em conduzir uma tarefa específica. Eu tenho usado eles para traduzir um conteúdo longo, como este que você está lendo, em conteúdos mais curtos para diferentes plataformas.
Ou seja: a ideia e linha de raciocínio precisam ser desenvolvidas por mim. O assistente sabe o que é preciso para escrever um conteúdo de acordo com as características de cada rede social onde ele será distribuído. Eu colo o conteúdo longo, e ele o transforma em formatos diferentes.
Com o output, você pode aperfeiçoar o tom de voz e dar seu próprio toque. Mas o processo criativo, como um todo, foi desenvolvido com base na sua ideia inicial e no formato que você direcionou.
É assim que eu tenho conseguido, sozinha, criar conteúdo pelo menos 3x por semana para o LinkedIn, Tik Tok e Instagram.
Você só precisa criar e nomear o assistente, desenvolver o prompt com as instruções e escolher em qual modelo de linguagem ele vai rodar.
De novo, a mágica está no prompt. Se você souber descrever exatamente o que precisa (e isso pode ser aperfeiçoado ao longo do tempo), seus resultados serão melhores. Não desanime.
Para que você tenha um ponto de partida, aqui está o prompt do assistente que vai transformar isso que você está lendo em pelo menos 10 posts para o meu LinkedIn nas próximas semanas.
Pense no assistente como seu funcionário. Você vai escrever, basicamente, um job description.
Próximos passos
Agora, estou desenvolvendo um assistente com automação que roda, todos os dias, uma pesquisa detalhada no Perplexity, me envia por e-mail e cria algumas ideias para que eu aborde temas que têm potencial de ficar em alta.
A plataforma que estou usando é a Make.com, mas ainda tenho aperfeiçoando esse carinha que vai trabalhar pra mim. Ele ainda está aprendendo, e eu tenho aprendido junto com ele.
Gostaria de agradecer ao algoritmo do TikTok, por ter colocado na minha For You indianos que estão criando assistentes automatizados de IA mais inteligentes do que todos nós.
Espero que isso tenha te convencido a testar as possibilidades não-convencionais que a Inteligência Artificial nos oferece, sem abrir mão de desenvolver suas habilidades criativas. Esses modelos, inclusive, estão me permitindo usar meu tempo só fazendo a parte legal da criação de conteúdo.
Até a próxima!
Que dicas maravilhosas! Muito obrigada 🙏🏾